A
palavra ética deriva do grego “ethos”, que significava bom costume. Definir o
que é a ética é, para além de difícil, uma limitação devido à grande amplitude
de conceitos que esta acarreta. De forma sumária, podemos afirmar que é a ética
que orienta o processo mental de tomadas de decisões, num processo que pondera
os valores, sendo uma ciência da conduta, valores e princípios morais de uma
sociedade.
Os
valores pessoais integrados na ética resultam de conteúdos significantes da
memória e são construídos a nível emocional e intelectual. Na ética o ideal é
que o ser humano de forma livre e espontânea pondere os seus atos e aja de
forma de forma respeitosa, benevolente, justa e responsável.
A relação
entre a ética e a ciência é por vezes difícil mas, à semelhança de Dr. Daniel
Serrão, “Confiemos nos pesquisadores. Confiemos na fidelidade à verdade, à
justiça, à solidariedade e ao respeito pelos outros, que são valores próprios
do cientista, porque estes valores são, também, os critérios éticos para as
suas decisões.”
A
bioética é por sua vez um ramo específico da ética, que emergiu do constante
evoluir da ciência, em que surgiam novos horizontes, os quais era necessário
limitar. Esta deveria, segundo Van Rensselaer Potter, “preencher o hiato entre
as ciências e as humanidades, usando especialmente a biologia e os valores
humanos para criar uma ciência da sobrevivência”.
De
todas as descobertas, a molécula de DNA foi a que mais impulsionou o
aparecimento da bioética. Embora possamos considerar a bioética como um ramo da
ética, na realidade a bioética é mais abrangente, na medida em que é uma visão
ampliada de valorização da vida do planeta, não se restringindo às pessoas. O
DNA veio aproximar-nos dos outros seres, não somos tão diferentes como
pensávamos. Existe um grande fundo de semelhança e o que quer que seja que nos
diferencia ainda está por descobrir.
A
ética médica é outro ramo ético, que por sua vez está ligada à conduta profissional
do médico, assim como à relação entre este e o doente. A ética médica procura
dar resposta a problemas que surgem da aplicação de tecnologias aos seres
humanos e que a nível prático podem definir, por exemplo, a realização de
ensaios clínicos em pessoas, a eutanásia e o aborto.
A
descoberta do genoma foi um marco histórico e que trouxe um avanço científico
incrível, assim como um conjunto de novos problemas para a ética médica.
A potencialidade da
descoberta do genoma humano é imensa e tanto nos traz a possibilidade de
antever futuros problemas, como descobrir genes que nos dão uma maior
predisposição para uma determinada doença, como uma possível aplicação
farmacológica orientada para o individuo, a reprodução medicamente assistida, a
parentalidade ou a aplicação na resolução de crimes.
Em
alguns casos o direito de escolha do individuo relativamente a estes testes
genéticos é ultrapassado, como nos casos criminais devidamente fundamentados,
mas este é um ato por norma de consentimento informado, de forma a proteger
todos os intervenientes.
Relativamente
à construção de uma base de dados genética, esta acarreta uma responsabilidade
acrescida, pois pode, à semelhança do que vimos no filme GATTACA, trazer
diversos problemas de discriminação.
Assim
sendo, concluímos a nossa reflexão sobre a ética com estas palavras do Dr. Daniel
Serrão: “Bioética não é apenas uma palavra de fácil sucesso nos meios de
comunicação social. Ou me engano muito ou a reflexão profunda que a palavra
bioética suscita nalguns dos mais brilhantes e responsáveis espíritos do nosso
tempo, vai abrir o caminho para que a Bioética seja a grande e generosa utopia
do Século XXI, sobre a qual se irá construir uma economia global mais justa,
uma ecologia mais sensata, uma política mais responsável e uma religião mais
alegre – tudo contribuindo para a realização do melhor bem dos seres humanos –
em paz”.